Não esquece do Raul!

Eu já disse isso algumas vezes aqui… E torno a repetir: andar de ônibus é, realmente, uma tristeza. Requer todo um preparo físico e emocional. Mas tenho que confessar que não teria passado por tantos momentos engraçados e toscos se andasse, por exemplo, de carro. E claro, não teria recolhido tantos capítulos para o meu livro sobre a arte de andar de ônibus. (Esclarecendo: não, eu não lancei um livro, mas já estou sentindo uma necessidade de fazê-lo só porque acho que as pessoas precisam de um manual de sobrevivência para ônibus!).

O episódio de hoje nem é tão engraçado. Aliás, não tem nada de engraçado, mas sim de nojento. Na verdade nem é nada demais (perto do que já passei dentro dos coletivos). Nesses momentos até penso que um carro resolveria a minha vida, mas depois acabo desistindo.

Bom, para começar, a novidade: estava atrasada. E justamente por isso, tive que pegar um ônibus cheio e que nem era o melhor para mim, mas que seria mais rápido.

(Aliás, eu acho que este texto até merece uma foto dos ônibus lotados que eu pego, porque quando eu falo, ninguém acredita. Dizem que estou exagerando, que todos os ônibus são assim, que eu tô reclamando demais etc etc. Fico devendo uma foto. No próximo lotadão, eu clico).

Me posicionei estrategicamente na porta de saída do ônibus. Já sei que o ônibus lota mais ainda em Bonsucesso, então já fico lá atrás se não tenho que atravessar umas cem pessoas para conseguir sair. Lógico que as pessoas também têm a mesma idéia brilhante que a minha e ficam todos lá atrás, juntinhos, sentindo o calor humano.

Na nossa viagem, passamos por váááários lugares porque é um caminho muuuito longo a percorrer. E alguns desses lugares, às vezes, não cheiram tão bem e sempre tem alguém sensível a aromas desagradáveis. Dessa vez a fulana estava justamente onde? E-x-a-t-o! Do MEU lado. Só ouvi a menina assim: “Ai! Dá licença! Dá licença! Preciso sentar! Tô passando mal!”. Aí a menina sentou na escada da porta de trás, justamente onde eu curtia a minha viagem tranquila a caminho do trabalho.

Não é que a menina começou a chamar o Raul ali mesmo na escada? (Para quem não sabe o que significa “chamar o Raul”, link explicativo). E sabe o que me deixa mais impressionada? A capacidade do ônibus criar mais espaço ainda. Porque nessas horas, todo mundo que estava grudado, reclamando que o ônibus estava cheio e blá, blá, blá, abre um espaço enorme porque ninguém quer ficar perto de quem chama o Raul, né?

E na hora de descer? Que eu tinha que pisar naquilo tudo? Que nojo!!! Rezei para o salto do meu sapato não quebrar, e me equilibrei ali mesmo. Desci a escada me apoiando só no salto do sapato para não correr o risco de me sujar.

É que, na verdade, quando a gente anda de ônibus, começa a desenvolver umas habilidades um tanto quanto inusitadas, como andar literalmente sobre os saltos, se equilibrar dentro do ônibus quando tá tão cheio que não consegue nem achar um espacinho para se segurar, ficar em posições Matrix porque nem sempre dá para ficar na posição mais confortável do mundo, e tantas outras que vou descrever depois…

E isso tudo aconteceu antes do meu dia começar realmente. Imagina o resto…