Mas que velho safado! (Parafraseando a Flora de "A Favorita")
Ah! Essa foi demais!
Depois de um dia de trabalho estressante (daqueles que você fica o dia todo sem ter muito volume de trabalho e aí quando faltam dez minutos para você ir embora, estoura um problema nas suas mãos para resolver “pra ontem”… Sabe como?), tentei uma carona para voltar para casa no conforto e não consegui. Ok, aí eu, que já estava atrasada, enfrento um ônibus lotado, carregando algumas bolsas (porque o dia não acaba quando você sai do trabalho, ele está apenas começando) e cheia de dores na coluna e na cabeça, com uma vontade enorme de ir para casa e dormir. Dormir muito.
Mas, infelizmente, não é assim que funciona a minha semana. Ainda tinha um compromisso às 19h em Niterói (e eu saí do trabalho, na Barra, às 18h) e depois ainda tinha que dar aula até às 22h (para acordar 4:30h no dia seguinte). Resumido, estava bem cansada e ainda tinha que enfrentar um longo caminho dentro de um ônibus abarrotado de gente.
Passada a primera etapa, fui pegar o segundo ônibus na Leopoldina. Mas eu estava morreeeendo de fome e precisava, urgente, de qualquer coisa comestível. Comprei um pacote de presuntinho a R$2,00 (gente… R$2,00?? Um pacote de presuntinho?? Fala sério, né?) e subi no primeiro ônibus para Niterói que encontrei. Lotado, é claro. Depois de entrar no ônibus, totalmente atrapalhada, com duas bolsas pesadas, o pacote de presuntinho aberto e o cartão do ônibus na mão, consegui, finalmente, passar a roleta e me colocar em algum espacinho onde eu pudesse me apoiar com todas as minhas coisas e ainda ficar com as duas mãos livres para comer. Isso tudo somado aos dois celulares tocando o tempo inteiro para resolver assuntos do trabalho….
Depois de uns dois minutos, alguém me cutucou no ombro e eu virei para trás. Era um senhor se oferecendo para segurar as minhas tralhas. Achei ótima a idéia e larguei tudo em cima do homem, coitado. Me apoiei para comer o presuntinho e fiquei olhando a paisagem (tudo isso aconteceu ainda na Leopoldina, só para ter noção do engarrafamento).
Tô ali parada e, sabe quando você sente que tem alguém te olhando fixamente? Olhei de rabo de olho e era o senhor que segurou minhas tralhas e, claro, fingi que não vi porque eu sou muito antipática. Parei de comer o presuntinho e enrolei o pacote. Nisso, o senhor pegou meu pacotinho (!) e eu perguntei se ele queria. Ele disse que não e ficou segurando (?) .Peguei e guardei na bolsa.
Daqui a pouco, o cara começou a puxar assunto comigo: “senta aqui. Você tá cansada. Eu não sou tão velho assim”… E eu, sempre muito educada, disse que “Não, obrigada”. E aí começou um diálogo ligeiramente estranho:
_ Você está triste?
_Não!? Por quê?
_Por nada. Pode sentar aqui se quiser. Você está com cara de quem está triste.
_Não! Não estou triste, só estou cansada, mas não quero sentar, obrigada.
_Pelo amor de Deus, estou dizendo que você está com cara de triste, mas não quero dizer que não está bonita. Pelo contrário, você é linda!
_Ha-ha – querendo na verdade dizer: “Oi??????”.
_Eu pego esse ônibus todo dia, estou acostumado a ficar em pé.
_É, eu pego ônibus piores. Estou acostumada. Não se preocupa, obrigada.
Depois de ele insistir por toda a Ponte Rio-Niterói, finalmente desistiu. Silêncio. Até que enfim.
Mas, como alegria de pobre dura pouco, o celular dele começou a tocar e, no aperto do ônibus, eu acabei ouvindo a conversa:
_É…. Isso……… Aqui na minha frente, rapaz………….. Igualzinha a Gloria Pires………. Linda…
Para a minha supresa (!!!), o velho puxou meu braço e perguntou quantos anos eu tinha e eu, educadíssima como sempre, respondi. No que ele continuou o papo dele no celular:
_Vinte e quatro anos, cara!!! Linda de morrer.
Nessa altura eu já estava como? Irritadíssima!!! Aí ele ainda virou para mim e fez cara de Didi Mocó!!!
Ah, nããããoo!!! Me deu muita raivaaa. E ficou apontando para o celular (com cara de Didi Mocó), como quem diz: “esse aqui, com quem estou falando é ótimo partido”.
Nisso, o ônibus inteiro já estava olhando o cara meio torto, né? Não satisfeito, o velho puxou meu braço mais uma vez e perguntou:
_Você mora em São Gonçalo?
Eu, com muita raiva, respondi:
_Não! Não moro em São Gonçalo. Muito obrigada por segurar as minhas coisas! – peguei as minhas coisas, cheia de violência, e dei dois passos para o lado. O ônibus estava tão cheio, que só deu para dar dois passos mesmo…).
E o cara continuou lá no celular, mas desceu no primeiro ponto depois da Ponte. Como tem gente sem noção nesse mundo, né?
Gente, agora me diz: Quem merece, depois de dois ônibus lotados, ainda aturar um velho desse se achando o garotinho? Ah, me poupe, né?