Sempre gostei de escrever

Quando era criança, não gostava muito de ler. Minha mãe era professora de português e, toda vez que eu tinha um daqueles trabalhos escolares baseados na leitura dos clássicos da literatura brasileira, era um verdadeiro drama em casa. Lembro da minha mãe perguntando se eu já tinha começado a ler, e eu mentia dizendo que sim…
Pra ser bem honesta, acho que o problema não estava em mim, nem na literatura, nem nos clássicos (aliás, muitos deles eu reli depois, já adulta). A questão é que, pra uma adolescente de 12 anos, aqueles clássicos são… chatos?
(Claro que isso mudou, e hoje eu amo ler. Tanto que estou sempre lendo 4 ou 5 livros ao mesmo tempo, além de artigos, revistas e leituras acadêmicas… Em todas as três línguas que eu falo… o que é extremamente cansativo, mas eu vou voltar nesse ponto daqui a pouco.)
Por outro lado, eu sempre amei escrever. De novo, não aquelas redações que a gente fazia pra treinar pro vestibular (na minha época. Acho que hoje é diferente). Gostava de escrever coisas aleatórias, assuntos que estavam na minha cabeça (ou seja, coisas aleatórias), ou meus sentimentos, minhas sensações. Não de forma poética — nunca gostei de escrever versos, o meu estilo sempre foi esse: prosa, crônicas, textos sobre a vida real, em primeira pessoa.
E eu lembro nitidamente de um dia na praia com meus pais em que eu disse: “Quero estudar Jornalismo. Quero ser escritora.” Eles ficaram tipo… “Como assim??? Você nem gosta de estudar História!” (Eu era péssima em História — sempre foi meu pesadelo). E daí? Hoje eu gosto de História, e naquela época eu queria ser escritora.
Eu fiz Jornalismo (quase não passei por causa da nota de História) e nunca me tornei escritora. Pelo menos, não da forma como eu queria ou imaginava. Fui pro Marketing, escrevi muitos artigos de comunicação corporativa, release, posicionamento de marca, manifesto, mensagem para público-alvo e, mais tarde, posts de blog otimizado pra SEO e legendas de rede social… Meio chato, sabe? (Não tô dizendo que meu trabalho é chato. Na verdade, amo o que faço. O que tô dizendo é que esse não é o tipo de escritora que eu queria ser).
Essa semana ouvi um podcast com o Seth Godin em que ele diz que escreve (ou bloga, não lembro bem agora) todos os dias. Mesmo que ele não publique. Mesmo sem ter público lendo, ele escreve. Vai dar engajamento? Ele não se importa. Ele escreve. E quando ouvi ele dizendo isso, tudo o que eu quis foi largar o que eu estava fazendo naquele momento (estava cozinhando, aliás) e ir direto pro computador escrever.
Quando ouvi ele dizendo isso, voltei pra 2003, quando criei meu primeiro blog (que perdi completamente) e escrevia todo santo dia, várias vezes por dia. Foi quando comecei a faculdade de Jornalismo, e depois das aulas, eu chegava em casa e blogava. O tempo todo, sobre qualquer coisa: minha vida, meus amigos, minha dança, meus desafios… Eu tinha leitores? Na verdade, sim. Mas eu não me importava nem um pouco. Eu só queria escrever.
Avançando até hoje, depois de muitos blogs, experiências, desafios e mudanças de vida, aqui estou: tentando me reconectar com aquela versão de 19 anos que era tão criativa, tão focada, tão comprometida com a escrita, tão capaz de escrever bem em português, tão…, tão…, tão…
Sim, eu sei, virei profissional de Marketing e escrever virou parte do meu trabalho. E sabe o que isso significa? Significa que eu tenho que garantir que estou usando uma estratégia de palavras-chave relevante pro meu público; que eu preciso cuidar da hierarquia de headings (H1, H2, H3, H4) pro texto ter bom SEO; que eu preciso analisar a estratégia de conteúdo dos concorrentes e criar uma ainda melhor; que preciso ter um mix de conteúdo TOFU, MOFU, BOFU pro blog. E sabe o que eu quero? EU. SÓ. QUERO. ESCREVER.
Se você reparar, aqui não tem hierarquia de headings. Eu não sei quais palavras-chave estou usando. Nem sei quem é meu público. E não, eu não usei IA pra escrever isso. E esse é outro ponto — por mais que eu use IA o tempo todo na vida (pra delegar tarefas, ter ideias, etc etc etc), eu não delego a minha escrita pra IA, e é tão fácil perceber quando um texto foi gerado por IA, e eles são tão sem graça, e parecem todos iguais. Pelo menos pra mim.
Eu nem sei mais qual é o meu idioma. Depois de morar no Canadá e agora na Espanha, sinto que perdi a fluência no meu próprio idioma. Eu costumava escrever coisas boas em português, com gramática impecável. Agora? Preciso revisar a regra do “por que/porque/porquê/por quê” toda vez que vou usar. Preciso confirmar os acentos antes de publicar. Meio que perdi minha identidade, sabe? É esquisito.
Tudo é multilíngue na minha cabeça agora: meus sonhos estão todos misturados, minhas ideias também. Às vezes penso em inglês, às vezes em espanhol, às vezes em português. Esse texto, por exemplo, surgiu em inglês primeiro. Depois traduzi (oi, IA), e revisei (eu mesma) pra ter certeza de que ainda soava fiel à minha marca pessoal (brincadeira) escrita.
Enfim, me perdi aqui. Só queria dizer que eu queria escrever. Esse episódio do Seth Godin (que, aliás, recomendo muito, mesmo que você não seja do Marketing) acionou algo no meu coração que me fez sentar e escrever. Na hora. Não consegui esperar. E vou ser eternamente grata ao Seth Godin por esse podcast (e por muitas outras coisas também, porque sou bem fã)! 🙂